Quatro políticas críticas para que as empresas brasileiras possam inovar mais

A capacidade das empresas em inovar e gerar mais valor para a economia é uma das chaves para aumentar a produtividade e a competitividade do país. Veja o caso do Vale do Silício, nos Estados Unidos, que se fosse um país seria o mais rico do mundo (ainda com os problemas que isso traz), ou Israel, que após conduzir uma série de reformas e incentivos a empresas inovadoras, é hoje o país que possui mais empresas litadas na Nasdaq depois dos Estados Unidos e China.

Quando as empresas inovam pouco, a competitividade do país sofre. A evidência empírica mostra um relacionamento positivo e significante entre o crescimento da produtividade do país e seu investimento em inovação. Desta maneira, o baixo investimento em inovação é um dos fatores por trás do crescimento desapontador da produtividade brasileira.  O Brasil ficou em 69º lugar entre 127 países no Índice Global de Inovação de 2016, e sua posição relativa deteriorou-se significativamente ao longo do tempo.

As empresas brasileiras investem pouco em pesquisa e desenvolvimento, introduzindo poucas inovações no mercado. Apenas um terço das empresas brasileiras são consideradas inovadoras, e uma pesquisa de 2016 revelou que apenas 2% lançaram novos produtos recentemente.

Investimento em P&D (% do PIB)

Outro fator que impede a inovação privada é que a colaboração entre os setores públicos e privado em pesquisa é muito limitada. Embora a Lei de Inovação tenha sido formulada para incentivar essas parcerias, ainda existem muitas barreiras. Os institutos públicos enfrentam extensa burocracia e procedimentos de contratação e aquisição excessivamente complexos. O processo de patentes é lento e oneroso e proteções fracas à propriedade intelectual desestimulam o processo.

Enquanto as empresas menores costumam apresentar baixa capacidade gerencial para adotar novas práticas produtivas, as empresas grandes carecem de profissionais qualificados e de financiamento para inovar. Essas restrições de capacidade, mais do que riscos econômicos, tendem a desencorajar as empresas brasileiras e desenvolver inovações. No setor agrícola o mesmo acontece com os pequenos produtores familiares, que apresentam uma produtividade muito baixa.

Pesquisadores por 1.000 empregados no setor privado

Para que as empresas possam inovar mais, nosso estudo, Produtividade sem Obstáculos: Propostas para retomar o crescimento do Brasil, aponta as seguintes políticas como críticas:

Construir um marco jurídico para incentivar a colaboração público-privada em pesquisa e desenvolvimento (P&D). O marco jurídico deve ser reformado para esclarecer a relação entre a inovação do setor privado e do setor público, com vistas a fortalecer o desenvolvimento de ecossistemas colaborativos e apoiar esforços coordenados de P&D e inovação geral, melhorando a colaboração entre múltiplos atores. Atualizações recentes da lei de inovação em 2016 e 2018 objetivaram desenvolver regras mais explícitas de engajamento e permitir às partes envolvidas maior liberdade para determinar a propriedade e o uso de PI, mas um esforço mais abrangente é necessário para fortalecer o marco jurídico para inovação. 

Implementar pesquisa orientada para a missão. O processo de criação e adaptação de conhecimentos de novas tecnologias pode ser acelerado significativamente quando associado a uma missão nacional ou regional – isto é, um desafio ou objetivo específico. Assim como em países desenvolvidos, há evidencias de que também em alguns países da América Latina o desenvolvimento de programas que vinculam agentes a missões específicas revela que a tecnologia orientada para a missão tende a ser mais relevante, atrai setores mais produtivos, gera mais patentes e mobiliza recursos mais vultosos do setor privado.

Desenvolver capacidade para inovação na empresa e na propriedade rural. Políticas destinadas a apoiar o crescimento da produtividade, facilitar a adaptação tecnológica, promover investimento em infraestrutura e prestar serviços de consultoria, de extensão e técnicos, vales-inovação, protótipos financeiros e suporte a testes e comercialização podem aumentar a capacidade de inovação das empresas. O investimento estrangeiro pode gerar efeitos positivos de spillover tecnológico e permitir que as empresas passem para níveis mais requintados de cadeias de valor globais. Os cursos de formação técnica e engenharia devem estar alinhados às necessidades do mercado e refletir os últimos avanços tecnológicos. 

Criar incentivos para que as empresas inovem. Oferecer subsídios de contrapartida para o desenvolvimento de inovações, conceder créditos fiscais para investimento em P&D, fortalecer os direitos de propriedade intelectual e industrial e apoiar a contratação de pessoal qualificado são medidas que podem reduzir a incerteza tecnológica.

As empresas brasileiras citam ainda a escassez de fontes de financiamento como um dos principais obstáculos para inovar. Menos de um terço das empresas inovadoras recebem fundos do governo para pesquisa e desenvolvimento. Dada a importância do tema, vamos falar especialmente de políticas para aumentar o financiamento a empresas em um próximo blogpost.

O estudo é resultado de um extenso processo de diálogo interno e externo com mais de 700 representantes do setor público, do setor privado e da sociedade civil de distintas áreas de expertise e regiões do Brasil, além da análise das equipes técnicas de todo o Grupo BID, e também serve como insumo para a estratégia de atuação do BID no Brasil.

por Vanderleia Radaelli | José Luiz Rossi Jr | Fabiano Rodrigues Bastos | 

Fonte: BID Ideação