Entrevista com André von Zuben

As competências e os desafios na transformação de Campinas em uma cidade inteligente

André von Zuben, secretário de Desenvolvimento Econômico, Social e Turismo da cidade de Campinas
André von Zuben, secretário de Desenvolvimento Econômico, Social e Turismo da cidade de Campinas

Por Patricia Mariuzzo

André von Zuben está à frente da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Social e Turismo da cidade de Campinas. É também presidente do Conselho Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação. Como vereador, apoiou a criação da lei que concede incentivos fiscais às empresas tecnológicas e participou da elaboração do Planejamento Estratégico de Ciência, Tecnologia e Inovação de Campinas (PECTI), 2015-2025. O secretário está envolvido no desenvolvimento de uma estratégia para aproximar Campinas de um modelo de cidade inteligente. Para isso a prefeitura buscou parcerias com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e com o Núcleo Softex Campinas. O modelo de cidade inteligente, segundo definição adotada pelo BID, pressupõe uma cidade inovadora que utiliza as tecnologias de informação e comunicação (TIC) e outros meios para melhorar a qualidade de vida, a eficiência das operações e serviços urbanos e sua competitividade. Nesta entrevista, que inaugura o Portal Campinas Inovadora, André von Zuben fala dos desafios para transformar Campinas em uma cidade mais inteligente e também das competências que a cidade reúne e que colaboram para encurtar esse caminho.

Em sua opinião, quais são as características chave e competências da cidade de Campinas e como elas poderiam ser melhor aproveitadas para o fortalecimento do ecossistema local de inovação e para a transformação de Campinas em um modelo mundial de cidade inteligente?

Eu apontaria, em primeiro lugar, o fato de termos universidades importantes aqui que formam mão de obra de alta qualidade. A Unicamp, por exemplo, é uma referência na América Latina e uma instituição fundamental nesse ecossistema de inovação porque sem mão-de-obra e sem pesquisa, não é possível avançar. Outra característica é o fato de termos instituições de pesquisa, tanto de nível estadual, quanto federal, de alto nível e que desenvolvem estudos em várias áreas como agricultura, tecnologia da informação, nanotecnologia etc. Enquanto algumas cidades se especializam em determinada área,  Campinas se destaca exatamente pela diversidade da sua pesquisa. E finalmente, temos grandes empresas, e são elas que vão se beneficiar desse ambiente. Muitas inclusive, mantêm centros de tecnologia aqui, o que não é comum na indústria brasileira como um todo. Enfim, temos um tripé sólido: formação de mão-de-obra, instituições de pesquisa e ensino e grandes empresas, que fortalece nosso ecossistema de inovação. Outro diferencial é a posição geográfica da cidade que constitui uma vantagem estratégica, perto da capital e com uma malha rodoviária que facilita o acesso. Temos também o maior aeroporto de carga do país, o Viracopos. Por exemplo, a maior parte dos componentes eletrônicos que são importados entra por aqui.

Que atores poderiam ter papel chave na mobilização e articulação do ecossistema de inovação no objetivo de transformar Campinas em modelo mundial de cidade inteligente?

Para isso temos feito várias ações que vão construindo esse processo. Já temos um plano estratégico de ciência e tecnologia, o Planejamento Estratégico de Ciência, Tecnologia e Inovação de Campinas (PECTI) 2015-2025. E agora estamos elaborando um plano de cidade inteligente que vai orientar essa transição. É uma ação que não está isolada na Secretaria de Desenvolvimento Econômico, mas que envolve toda a gestão municipal. A despeito da elaboração do plano, temos ações já em andamento. 

Pode dar algum exemplo dessas ações?

Estamos construindo um hub de start ups, que vai envolver todo o ecossistema. Também formamos um cluster de microeletrônica, em parceria com centros de pesquisa e com as universidades, tendo em mente que este é um setor muito avançado em Campinas, de importância fundamental em termos de inovação e também de geração de empregos qualificados. Portanto, são várias ações que vão criando condições que para que os atores possam interagir de modo integrado. Na área de segurança estamos tocando um projeto em uma parceria com o CPqD e a empresa chinesa Huawei para instalação de câmeras inteligentes em Campinas para monitoramento na área de segurança pública. Numa ação pioneira no país na área de segurança pública, Campinas irá disponibilizar seu ambiente urbano para que seja um laboratório vivo de desenvolvimento e pesquisa no dia a dia do município. Essas parcerias são fundamentais, temos que interagir com quem pesquisa e com quem produz para colocar em prática esse potencial. A parceria com o BID também é parte dessa estratégia. São práticas que poderão ser, inclusive, replicadas em outros lugares, em outras cidades.

Uma das metas estratégicas do PECTI é que em 2025, 100% das residências e escolas de Campinas acessem a internet. Qual o plano para atingir essa meta?

Estamos construindo uma rede de fibra óptica, por meio da Informática dos Municípios Associados, a IMA, a Rede Metro Óptica de Campinas (RMOC). Neste segundo semestre estão sendo instalados 80 quilômetros de cabos para ampliar a rede, que atende os prédios públicos da cidade, como centros de saúde, escolas, Paço Municipal, equipamentos de segurança. Esta expansão elevará a rede de fibra óptica dos 120 quilômetros atuais para 200 quilômetros. A ampliação garantirá o acesso à rede de internet a mais 100 unidades públicas que hoje são atendidas por empresas terceirizadas. A meta é implantar 450 quilômetros de rede até 2020. Campinas também foi contemplada no projeto, Internet para todos, do governo federal. Em Campinas, temos 60% dos lares com acesso à banda larga. Com esse programa, a cidade poderá chegar a 100%. Nós queremos que essa estrutura chegue em toda a periferia da cidade. Isso é fundamental para construir uma cidade inteligente que, no final das contas, é uma cidade que melhora a vida do cidadão.

Quais os diferenciais de Campinas na área de benefícios fiscais? 

Temos leis tanto na área de start ups, para empresas de tecnologia e, mais recentemente, na área de negócios sustentáveis. A prefeitura de Campinas estabelece redução da alíquota do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) de 5 para 2% para companhias que atuam nas áreas de pesquisa e desenvolvimento, turismo de negócios, logística e defesa e isenção do Imposto sobre Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) para start ups (Lei 14.947/2014 e Lei 14.920/2014). Ainda na área de incentivos fiscais, em maio desse ano foi sancionada a Lei nº 15.602 para atrair empresas do setor de energias renováveis a se instalarem em Campinas, como por exemplo, montadoras de ônibus e veículos elétricos e híbridos, fabricantes de baterias, painéis fotovoltaicos e de máquinas e equipamentos de outras fontes de energia renovável. Isso porque também almejamos ser reconhecidos como uma cidade que apóia um modelo de crescimento sustentável.

Pode falar mais dessa estratégia de mobilidade mais sustentável? Como a prefeitura pode incentivar a expansão dessa rede de ônibus elétricos? 

Campinas possui 13 ônibus elétricos em operação no sistema de transporte público coletivo. É a maior frota do Brasil. Nós temos uma estratégia na área de mobilidade que vai privilegiar os veículos elétricos, a meta é ter entre 120 e 150 ônibus rodando na cidade até 2020. Na próxima licitação para prestação de serviço de ônibus urbano isso já será contemplado. Além disso, estamos planejando ter uma área no centro da cidade de tráfego exclusivo para ônibus elétrico. Isso vai ajudar a melhorar qualidade do ar na região central, onde se concentra o maior nível de poluição. Sabemos que os ônibus são vetores importantes nesse sentido. Também estamos panejando que nos novos corredores de ônibus, que estão sendo construídos, só ônibus elétricos poderão circular. Campinas possui três táxis elétricos em circulação. A região de Campinas possui 10 eletropostos, para recarga de veículos elétricos. Desse total, oito estão instalados no perímetro urbano.

Em um ecossistema de inovação, o governo é um ator-chave na indução de inovações. Como o senhor vê o papel da Compra Pública Inovadora (CPI) como uma possível estratégia de indução da cadeia de inovação em Campinas?

Temos feito um trabalho para ter mais pequenas empresas participando das compras públicas de modo a fortalecer esse setor na cidade. Isso é importante tendo em vista que as pequenas empresas são responsáveis por boa parte dos empregos gerados no país e não diferente em Campinas. Em 2017, cerca de 70% das compras da prefeitura de Campinas foram feitas em pequenas empresas. Temos também um projeto de aceleração de empresas por meio de concursos de desenvolvimento de soluções para alguns serviços prestados pela prefeitura.