Griaule fornece soluções de identificação biométrica para o mundo

Empresa brasileira criou umas das melhores tecnologias de identificação biométrica

Crédito: Griaule

A identificação das pessoas por meio de impressões digitais, face ou mesmo pela íris já faz parte do cotidiano de todos nós. Nossos dados biométricos são as novas chaves para abrir portas, ter acesso à conta bancária, abrir o carro e checar mensagens no celular. No entanto, apenas cinco empresas em todo o mundo dominam a tecnologia de identificação biométrica de todas as modalidades do Sistema Automatizado de Identificação de Impressões Digitais (AFIS, na sigla em inglês). E é uma empresa brasileira, com sede na cidade de Campinas, interior de São Paulo, que desenvolve as melhores soluções do mundo para identificação biométrica: a Griaule. As tecnologias de reconhecimento criadas pela Griaule (ver texto ao final) estão por trás de milhares de transações biométricas feitas diariamente em 74 países.

A Griaule já nasceu para ser uma empresa global. A empresa, que está no mercado há 17 anos, surgiu em meados de 2002, como uma das incubadas da Incamp (Incubadora de Empresas da Unicamp, ver texto destacado abaixo). “Nos primeiros anos o foco era desenvolver a melhor tecnologia de reconhecimento de impressões digitais do mundo”, conta João Weber, diretor executivo da Griaule. A estratégia deu certo porque, já em 2003, a Griaule participou de um campeonato internacional de algoritmos de biometria, conquistando o oitavo lugar entre os melhores algoritmos do mundo. Três anos depois, em 2006, em outra competição internacional, o algoritmo da empresa brasileira teve a menor taxa de erro entre todos os participantes. “A qualidade do nosso produto, aliada à essa projeção internacional abriu as portas da Griaule para o mercado internacional”, disse Weber.

No coração da tecnologia da informação – O CEO da Griaule, Iron Daher, idealizou a empresa no final de década de 1990, quando ainda era estudante de engenharia elétrica da Universidade Federal de Goiás (UFG) e pesquisava algoritmos para reconhecimento de impressões digitais e faciais. A consolidação aconteceu pouco tempo depois, em 2002, quando o plano de negócios da Griaule foi aceito na Incamp. O principal objetivo de levar a empresa de Goiás para Campinas foi aproximá-la do cluster de tecnologia de informação, que, no Brasil, se encontra fortemente concentrado no Estado de São Paulo, em especial na cidade de Campinas, há poucos menos de 100 quilômetros da capital. Deixar a cidade natal, no entanto, valeu a pena. Com a infraestrutura e a capacitação tecnológica e gerencial para novos empreendedores oferecidas pela Incamp, ainda no seu primeiro ano de incubação a Griaule iniciou a comercialização do seu primeiro software. Segundo João Weber, a proximidade com uma universidade de primeira linha, como a Unicamp, ainda é fundamental para aperfeiçoar continuamente os sistemas de reconhecimento digital, tanto por conta da atração de talentos, quanto pelas parcerias técnico científicas com os pesquisadores da universidade. A maioria dos profissionais da Griaule estudaram ou ainda estudam na Unicamp e 50% da equipe dedica se à pesquisa e inovação de novos produtos, declarou Weber.

Metade da equipe da Griaule dedica-se à pesquisa e inovação.

Embora no surgimento da empresa, o foco fosse o desenvolvimento algoritmos para identificação por meio da impressão digital, atualmente a Griaule desenvolve tecnologias para todos os tipos de identificação do Sistema Biométrico Automatizado de Identificação (ABIS, na sigla em inglês) que inclui, além das impressões digitais, sistemas para identificação da impressão palmar, de latentes de impressão digital (que são fragmentos de digitais presentes em cenas de crime, por exemplo), de impressão de palmar de recém-nascidos, de faces e íris.

Soluções para mercados exigentes – Em 2007, com objetivo de alavancar as vendas no exterior, o CEO da empresa, Iron Daher, montou um escritório na cidade de San Jose, no Vale do Silício, Califórnia. Hoje, as exportações representam 50% da receita da empresa, número que mostra que a Griaule se consolidou sua posição um player internacional na área de biometria, com uma das melhores tecnologias de biometria do mundo. Estados Unidos, México, Índia, Israel e Colômbia são alguns exemplos de países onde a empresa brasileira tem clientes.

O reconhecimento da qualidade dos produtos e serviços oferecidos pela Griaule possibilitou que ela entrasse em um dos mercados mais exigentes do mundo em termos de segurança, Israel. É a empresa brasileira que fornece o software de classificação de padrões biométricos utilizada pela On Track Innovations (OTI), empresa israelense que foi selecionada pelo governo para cuidar da emissão do documento de identidade em Israel. A classificação de impressões digitais, um passo crítico no processo de registro pessoal, foi uma das fontes de problemas durante o cadastramento dos cidadãos em Israel porque eles usavam um sistema manual baseado na experiência do funcionário, que variava conforme a região do país. A tecnologia fornecida pela Griaule permitiu tornar todo o processo, que envolve dezenas de milhões de registros, rápido e eficiente, com os dados pessoais sendo acessados de maneira segura e controlada.

O diretor executivo da Griaule, João Weber: “Empresa tem focado em projetos de larga escala”.

Segundo Weber, mais recentemente, a Griaule tem buscado expandir a presença da empresa no mercado norte-americano. Em 2018 a empresa foi destaque na imprensa brasileira especializada em tecnologia por ter vencido uma concorrência para fornecimento de tecnologia de identificação para um projeto do Pentágono que vai aplicá-la no Afeganistão e Iraque. “No caso do Pentágono, fornecemos todas as modalidades dentro do sistema ABIS. Nesse projeto estamos utilizando o que há de mais inovador em tecnologia biométrica com os mais altos padrões internacionais”, disse o diretor. Os produtos da Griaule também estão sendo usados pela polícia estadual do estado do Arizona e pelo Departamento de Controle de Fronteiras norte-americano

A Griaule concentra suas atividades em dois grandes mercados: o corporativo e o de segurança pública. Para o mercado corporativo, desenvolve sistemas de identificação biométrica para fazer login em computadores; equipamentos para pontos de venda e controle de ponto e para acesso a ambientes, em pequena e larga escala, como no caso dos bancos. Já para os clientes governamentais, a Griaule fornece sistemas de reconhecimento em grande escala, da ordem de milhões de registros, necessários, por exemplo, para controle de fronteiras, emissão de passaportes e de carteira de habilitação, identificação civil e criminal etc. No Brasil um desses clientes é o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O projeto de identificação biométrica da Justiça Eleitoral brasileira, que começou em 2008, tem por objetivo implantar em âmbito nacional a identificação e verificação biométrica da impressão digital para garantir que o eleitor seja único no cadastro eleitoral e que, ao se apresentar para o exercício do voto, seja o mesmo que se habilitou no alistamento eleitoral. “A introdução do reconhecimento biométrico no TSE tem colaborado para evitar fraudes, como por exemplo, a emissão títulos de eleitor falsos. Desde que iniciamos a parceria, encontramos mais de 30 mil casos de pessoas que tentavam tirar mais de um título de eleitor. Todas as impressões digitais e fotografias de face coletadas são comparadas com o acervo da base de dados para coibir esse tipo de incidente”, explicou Weber. De acordo com dados do TSE, nas eleições de 2018, estavam aptos a votar 87.363.098 eleitores por meio da identificação biométrica, (59,31% do eleitorado total de 147.306.275) em 2.793 municípios (48,65% do total, de 5.570).

Outra aplicação da identificação biométrica com um importante impacto social, mesmo que em uma escala menor, é a identificação palmar dos recém-nascidos. Obrigatória no Brasil desde 2018, ela previne trocas de bebês nas maternidades, tráfico de crianças, facilita a identificação de crianças abandonadas depois do nascimento. a impressão palmar é coletada logo após o nascimento e é vinculada às digitais da mãe. A Griaule fornece a tecnologia para algumas maternidades no Brasil. Outros clientes brasileiros são a cooperativa de médicos Unimed, com mais de 16 milhões de clientes em todo o país, a Caixa Econômica Federal, a Serasa, Imprensa Oficial, a Polícia Civil do Distrito Federal e a Fundação Casa.

Transformação digital – A Griaule está presente no processo de transformação digital no Brasil em curso no Brasil no qual está incluída a criação do Documento Nacional de Identidade. O DNI vai integrar documentos como o RG, CPF, certidão de nascimento, de casamento e título de eleitor, com validade em todo território nacional. O projeto-piloto foi iniciado em 2018 e aproveita o banco de dados dos eleitores já cadastrados no país – cerca de 90 milhões. Em sua primeira fase o DNI integra CPF e título de eleitor e tem formato digital disponibilizado em um aplicativo gratuito, que pode ser instalado em smartphones, tablets e smartwatches nas plataformas Android e IoS.

O DNI é fruto da interoperabilidade entre bases de dados do Ministério do Planejamento (MP) e do Poder Judiciário. O TSE disponibiliza a base de dados do cadastro eleitoral, que tem a segurança da identificação biométrica do cidadão. O MP provê a plataforma de autenticação digital do cidadão – Brasil Cidadão. A solução vai autenticar o cidadão para uso do aplicativo e servirá para o atendente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) validar o cadastro do cidadão. Somente poderá baixar o aplicativo e ter acesso digital ao DNI quem já fez o cadastramento biométrico (coleta de foto e das impressões digitais) na Justiça Eleitoral. Esse procedimento tem como objetivo reforçar a segurança, a confiabilidade e a rigidez da identificação. “Todo cidadão será checado biometricamente antes de emitir o DNI usando a nossa tecnologia”, finalizou Weber.

Um dragão brasileiro – Griaule é o nome de um dragão, criado por Lucius Shepard, autor de ficção científica. Com dois quilômetros de comprimento, o monstro assolava uma região fazendo com que um mago muito poderoso fosse contratado para matá-lo. No entanto, temendo a vingança do dragão caso o encantamento que o mataria falhasse, o mago decidiu que ele ficaria apenas congelado no tempo e no espaço. Assim, Griaule continuou vivo e se transformou em uma montanha na qual foi construída uma cidade. A cada 10 anos quando seu coração bate, um pequeno terremoto abala a cidade.

Por Patricia Mariuzzo