A Região Metropolitana de Campinas irá ultrapassar São Paulo e se tornar o polo mais importante do Brasil para as indústrias de alta intensidade tecnológica. Essa foi a previsão de Vagner Bessa, gerente de indicadores econômicos da Fundação Seade, em sua apresentação no painel “Região de Campinas – Potencial Tecnológico e Impacto”, que ocorreu em outubro durante o Inova Campinas Trade Show. O painel teve como objetivo discutir a capacidade de Campinas em gerar conhecimento, potencial tecnológico e inovações, além de seus impactos na economia nacional, e reuniu representantes de empresas, instituições de ciência e tecnologia e do poder público da região.
A afirmação de Bessa é fruto de indicadores que a Seade produziu para mensurar a criação de empregos e riqueza pela indústria. Eles constataram a desconcentração da atividade industrial na região de São Paulo e o adensamento de indústrias de alta tecnologia perto de Campinas, nas rodovias Bandeirantes e Anhanguera. Além disso, houve a consolidação do chamado “corredor asiático”, com o aumento de empresas da China, Japão e Coreia do Sul na extensão que vai de Campinas a Sorocaba. “E a gente também tem uma teoria de que essa área que está amarrada de Rio Claro, Piracicaba, Campinas, Jundiaí e Sorocaba é o núcleo de desenvolvimento industrial brasileiro” revela.
Ainda de acordo com o executivo, Campinas já é a primeira região do país em setores como o automobilístico, além de ter grande representatividade em áreas como máquinas e equipamentos, medição hospitalar e informática. No caso dessa última, houve um grande estímulo após a instituição da chamada Lei de Informática que incentiva investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) na área de tecnologia da informação por meio da redução ou suspensão de impostos e da preferência de aquisição de produtos nacionais pelos órgãos públicos.
Um dos resultados da Lei de Informática foi a criação do Instituto Eldorado, que completou 20 anos. Instalado ao lado do campus da Unicamp, no distrito de Barão Geraldo, o Instituto rapidamente se tornou um dos maiores centros de pesquisa, desenvolvimento e inovação do país. Segundo José Eduardo Bertuzzo, executivo de operações tecnológicas do Eldorado, cerca de 50 a 60% dos investimentos frutos dessa Lei são feitos na região de Campinas. “E isso de uma certa forma ajudou a valorizar a base industrial da região. Está se criando aqui esse círculo virtuoso. Mais empresas, quando decidem vir para o Brasil, acabam gradualmente escolhendo a região porque ela já tem a logística adequada, essa estrutura para a formação de ecossistema do ponto de vista da competitividade”.
Oportunidades para Campinas – Atualmente, a área de tecnologia da informação é uma das que mais crescem em Campinas, conhecida como o Vale do Silício brasileiro. Exemplo disso é a Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês), campo que surgiu do processo de tecnologia móvel e que busca conectar objetos físicos entre si e com os usuários, por meio de sensores ou softwares de transmissão de dados. Só que, ao contrário do que aconteceu com os smartphones, em que as pessoas do mundo inteiro se adaptaram ao modo de vida criado pelo aparelho, com a internet das coisas o caminho será o inverso. Ou seja, é a tecnologia que terá que se adaptar às demandas locais.
Dessa forma, se quisermos, por exemplo, produzir uma agricultura 4.0 (que adota tecnologias digitais de ponta), será preciso partir do modelo da agricultura característica e endêmica da região escolhida e adaptar os conceitos de Internet das Coisas para lá, ao invés de criar um modelo geral que se aplique a qualquer realidade. De acordo com Bertuzzo, essa particularidade da IoT representa uma oportunidade para o Brasil porque no planeta existem muito mais pessoas com um padrão de vida parecido com o do país, o que significa que ele poderá se especializar em produzir soluções em diversas áreas para locais com renda semelhante. “Nós temos tido uma evolução de tecnologias habilitadoras amadurecendo ao mesmo tempo. A gente costuma chamar isso de tsunami tecnológico. E a grande novidade nos últimos cinco anos, que se convencionou chamar de aerotipo, é que ela está permeando outras indústrias como atividade meio. E dada a característica de que muitas soluções terão que ser desenvolvidas de forma particular a cada ecossistema, é a oportunidade que a gente tem de surfar nessa onda, dos países de renda média acharem o seu nicho e o seu espaço”, finaliza Bertuzzo.
Por Paula Penedo P. de Carvalho