Em Bangalore, Índia, ecossistema digital responde a desafios

Um dos mais complexos centros de alta tecnologia da Ásia enfrenta consequências do rápido crescimento urbano e alta concorrência tecnológica com política de P&D. Por Mariana Castro Alves

Centro comercial de Bangalore. Crédito: Wikipedia

Bangalore, capital do estado de Karnataka, localizado no sul da Índia, está no “top 10” do ecossistema global de startups. Conhecida como o Vale do Silício indiano, a cidade é o berço da indústria de tecnologia da informação (TI) no país.

A implantação de empresas de tecnologia, que atrai mão de obra local e estrangeira, fez a cidade ter um crescimento demográfico de 38% entre 1991 e 2001, a segunda mais rápida expansão populacional da Índia em termos percentuais. O rápido crescimento em um país emergente não poderia deixar de acarretar problemas como poluição, problemas de trânsito, falta de água e saneamento.

Entretanto, como a terceira cidade mais populosa da Índia e uma das mais populosas do planeta, Bangalore apresenta um PIB per capita cerca de oito vezes maior que a média indiana, em torno de US$ 8,6 mil, segundo dados de 2008. Aproximadamente 10% de sua população vive em favelas, um índice baixo se comparado, por exemplo, a Mumbai, onde metade da população sobrevive em habitações desse tipo. O analfabetismo atinge 11% da população, um percentual alto, mas bastante inferior à taxa nacional que é de 40% de analfabetos. Assim, Bangalore apresenta um índice de desenvolvimento humano (IDH) que é quase o dobro da média do país.

Desafios logísticos, de infraestrutura, de formação de talentos, geração de empregos de qualidade, de superação da desigualdade social e da ameaça de concorrência tecnológica dos países asiáticos vizinhos se colocam. Para se manter  como líder global em manufatura, design e P&D, o Estado indiano comanda reformas estratégicas, por exemplo, a abertura de capital estrangeiro em vários setores somada a uma política de substituição de importações. Está ainda nesse horizonte a criação de corredores industriais para facilitar o escoamento de mercadorias. O estabelecimento de programas como Clean India e Digital India orientam o fortalecimento do ecossistema digital, especialmente voltado às startups de tecnologia.

Setores acionados – Em proveito da abundância de recursos humanos jovens e baratos, o governo comanda uma política em que são acionados diversos setores: as multinacionais que são convidadas a produzir P&D no país; os governos locais, parceiros na organização do território; as instituições públicas de P&D, onde se dão várias iniciativas governamentais e investidores locais.

Com governança através de conselhos e comitês nos quais se integram diversos atores, a regulação, infraestrutura e integração do ecossistema digital tem o protagonismo do governo central.

O estado de Karnataka, em suporte às políticas do governo central para P&D , oferece terras para construção dos parques de tecnologia, em parcerias com investidores internos e externos. O retorno de talentos do Vale do Silício também é fator que impulsiona o processo.

Programas – As startups como alternativa de empregabilidade se estruturam em “ilhas de excelência” nas quais diversos setores se sobrepõem: eletrônica, TI, P&D e biotecnologia.

Nos anos 2000, o Programa “Technology Business Incubator”,TBI, incentiva o nascimento e o fortalecimento de incubadoras em centros públicos de C&T e universidades. Na Índia, a academia e os institutos públicos de C&T são articulados ao setor produtivo, por meio de incubadoras nas instituições públicas.

Em 2016, o Programa NIDHI se constitui como um conjunto de iniciativas de apoio a todo ciclo de vida das startups. Desde a concepção das ideias, passando pela prototipação e chegando ao ajustamento ao mercado, o programa orienta startups a se tornarem globais. A atuação ocorre em vários estados indianos, em parceria com instituições públicas e sem fins lucrativos de ensino e de P&D.

Uma longa história – Embora pareça um fenômeno relativamente recente, o suporte ao empreendedorismo tecnológico em Bangalore remonta a várias décadas. Do final dos anos 1940 até meados dos anos 1980, Bangalore dá início ao processo com a presença de cluster de engenharia e eletrônica formado por empresas públicas, instituições públicas de P&D e instituições de ensino e pesquisa em terrenos cedidos para pequenas e médias empresas pelo governo. O clima era adequado para políticas de regulação e de controle voltadas à indústria e infraestrutura.

De meados dos 1980 até o final dos 1990, surge também o cluster de tecnologia da informação (TI) e as incubadoras tecnológicas (BT) junto ao cluster de engenharia e eletrônica. Com o fim da reserva de mercado, ou seja, fim da canalização da demanda para a produção nacional, a resposta de multinacionais de TI e BT é positiva: esses setores de ponta passam a se inserir no ecossistema formado na década anterior.

A partir dos anos 2000, com maior liberação das regras de investimento externo, o fluxo de investimento direto estrangeiro (IDE) centra-se em P&D. Assim, o cluster de P&D junta-se ao cluster de TI e BT e ao de engenharia e eletrônica, fazendo de Bangalore uma das cidades mais empreendedoras do mundo.

Fonte: Mapeamento de Experiências Internacionais: União Europeia-Berlim-Madri-Barcelona-Lisboa-Porto, estudo financiando pelo BID e coordenado por Maria Luisa Campos Machado Leal.

Por Mariana Castro Alves