Investidor anjo pode viabilizar negócios promissores

Por Bianca Bosso e Simone Pallone (Labjor/Nudecri)

Tipos de Investimentos para novos negócios é um dos temas de grande relevância nos debates que ocorrem no Hack Town, festival anual de tecnologia, inovação, comportamento, educação, música e empreendedorismo, que é realizado no município mineiro de Santa Rita do Sapucaí. Na edição de 2019 não foi diferente. Reunidos em um café no Centro da cidade, no início de setembro, um grupo de investidores angel apresentaram suas experiências em consultoria para startups de tecnologia nos últimos 12 anos. Mas o que seria um investidor anjo?

O jovem americano Steve Jobs, no auge de seus vinte e poucos anos, teve uma ideia inovadora que culminaria em uma empresa de informática e tecnologia conhecida mundialmente, nada menos que a Apple. Apesar de visionário, Jobs não seria capaz de criar uma empresa tão bem sucedida sem experiência em empreendedorismo e sem capital para dar início às atividades. Um investidor “fantasma” teve papel crucial na fundação e consolidação da Apple: Mike Markkula, um ex-gerente da Intel, que apostou suas fichas na proposta de Jobs e depositou não somente capital financeiro, mas também sua experiência e rede de contatos para que a ideia se tornasse hoje uma empresa avaliada em três trilhões de dólares.

Assim como Markkula, diversos investidores têm apostado nesse modelo de financiamento, conhecido como investimento-anjo. Os investidores-anjo – do inglês business angel – podem ser pessoas físicas ou jurídicas, geralmente com experiência em empreendedorismo, que investem seus próprios recursos monetários em ideias de empresas jovens (startups) ou negócios mais experientes que pretendem inovar em seu campo de atuação. Os investidores-anjo diferem dos financiadores tradicionais porque, ao contrário destes, trazem para o projeto não somente capital financeiro, mas atuam como conselheiros do empreendedor principal, acrescentando sugestões e orientações pertinentes ao projeto, com a vantagem de que muitas vezes trazem consigo vasta experiência em empreendedorismo.

Esses investidores  também são capazes de auxiliar na formação de uma rede de contatos primordial, garantindo, por exemplo, a contratação de serviços e mão de obra qualificada. Os anjos, como são chamados, não recebem um cargo na empresa e também não participam dos dividendos dos faturamentos iniciais – só receberão um retorno financeiro ao término da parceria. 

O encontro promovido pelo Hack Town no Café Caruso, levou investidores e público formado por empresários, estudantes e interessados em abrir um novo negócio, para o debate sobre o conceito e as aplicações do investimento-anjo.  César Guiotti, diretor da ASCON, consultoria de gestão, finanças, planejamento e estratégia para pequenas e médias empresas, que presta assessoria e mentoria para startups de tecnologia e inovação, foi quem conduziu o debate que contou com a participação de especialistas na área. 

César Alckmin é professor do Inatel – Instituto Nacional de Telecomunicações, sócio-diretor da Exsto, uma empresa de produtos para educação tecnológica, sediada em Santa Rita, e é um investidor-anjo recente, apostando em startups ligadas à educação. Ele brincou que o negócio no qual ele acreditava menos é o que está se desenvolvendo melhor. 

André Abade, também é professor do Inatel, na área de comunicações ópticas. Há oito anos começou a atuar com empreendedorismo no Instituto. Quando surgiu a oportunidade passou a atuar como investidor-anjo. O primeiro investimento foi na criação de uma empresa que não foi bem sucedida, mas ele não desistiu e criou uma segunda, que ainda existe, mas Abade não está mais no negócio. Por fim, preferiu mudar de lado e se tornar um investidor. Ele considera que foi mais interessante, porque pode contribuir com novos desenvolvimentos tecnológicos, sem uma dedicação muito grande. Acabou participando com o grupo de investidores Angel coordenado por Guiotti. 

Da esquerda para a direita: César Alckmin, André Abade, Alexandre Inserra e Cesar Guiotti. Crédito: Simone Pallone

A empresa na qual Abade investe, desenvolveu um joystick para crianças com deficiência, mas que pode ser usado por todas as crianças, sem diferenciação. O produto está ligado ao projeto da Galinha Pintadinha, um caso de grande sucesso de empreendedorismo no Brasil, que teve início em Campinas – SP, com a gravação de músicas para recuperar o cancioneiro infantil brasileiro. Hoje, além dos vídeos, a empresa fatura com o licenciamento de um sem número de produtos como material escolar, bonecos, decoração de festas e ainda desenvolvem produtos como esse joystick. 

O quarto participante da conversa foi o executivo Alexandre Inserra, engenheiro, que trabalhou na Volkswagen, que o levou para a Alemanha. Depois da atuação nessa empresa automobilística, passou a atuar em consultoria empresarial e a investir – em fundos menores, na Bolsa de Valores. Ele também passou a fazer análises de investimentos para novos negócios. Juntando-se a outros investidores, chegou ao joystick que estava sendo desenvolvido para o conjunto de produtos da Galinha Pintadinha.

O debate rendeu uma série de dicas para empreendedores que desejam conseguir um financiamento-anjo para sua ideia ou empresa, que podem ser resumidos assim: 

  • O produto e o modelo de negócio: Para os investidores, a análise do produto é uma etapa crucial para determinar se o financiamento será ou não aceito. Produtos com potencial de inovação e sucesso, com plasticidade que permite adaptação a diferentes públicos e mercado amplo são preferíveis, uma vez que oferecem um potencial de retorno mais garantido.
  • A empresa e o empreendedor: Além da necessidade de garantir que a empresa tenha capacidade técnica para gerenciar a produção e estabilidade do produto, é necessário analisar o perfil do empreendedor. O futuro empresário deve ter em mente que, para que o negócio prospere, é necessário que a dedicação seja  integral. Quanto ao perfil do empreendedor, César Guiotti salienta que “O empreendedor é o principal elo da cadeia de empreendedorismo; além de ter flexibilidade, ele deve saber ouvir e questionar, perceber quando deve fazer modificações e ser muito resiliente – porque as coisas não são fáceis em uma startup”.
  • A possibilidade de saída – O investidor anjo tem ciência de que, no futuro, quando a empresa for capaz de se auto-sustentar financeiramente e do ponto de vista do empreendedorismo, possivelmente a parceria chegará ao fim – seja por mudanças na sociedade ou forma de financiamento, por venda da empresa ou outras alterações. É nesse momento que o anjo deverá receber o retorno financeiro do investimento. Dessa forma, é fundamental que, ao investir, o angel enxergue na empresa um potencial de retorno monetário a longo prazo. 

É importante destacar que os investimentos-anjo podem gerar frutos não somente para os investidores e empreendedores, mas também para a economia no nível local e até mesmo nacional, uma vez que a ideia apoiada pode culminar na geração de empregos e tributos.

Da mesma forma que Markkula teve papel fundamental no sucesso da hoje trilionária Apple, um investidor anjo pode amplificar o potencial de sua ideia através de sua experiência empreendedora e torná-la possível monetariamente. Que tal considerar a ajuda de um anjo para a consolidação de seu negócio?

Por Bianca Bosso e Simone Pallone (Labjor/Nudecri)