Planejamento de baixo carbono na cidade do México

Um dos caminhos para lidar com o cenários das mudanças climáticas é melhorar o metabolismo urbano nas cidades, incorporando a agricultura urbana e a produção de alimentos. Por Patricia Mariuzzo

Centro histórico na cidade do México. Crédito: Pixabay

Os efeitos do aquecimento global devem ser sentidos mais rapidamente em regiões tropicais onde estão, por exemplo, alguns países do Mediterrâneo, áreas no centro e norte do Brasil e largas porções do México. Esses mesmos efeitos devem gerar impactos significativos especialmente nas cidades, onde se concentra a maior parte da população do mundo. Neste cenário, “é necessário realizar ações que possam mitigar os efeitos das mudanças climáticas, especificamente em áreas como desastres naturais, alimentos e recursos energéticos e fragmentação do ambiente natural e urbano”, afirmam os pesquisadores mexicanos Silvério Hernández-Moreno, José Antonio Hernández-Moreno e Bianca Alcaraz-Vargas em artigo publicado na edição de setembro da revista Bitácora Urbano Territorial.

Eles defendem o planejamento urbano de baixo carbono como um caminho para mitigar esses efeitos em grandes cidades. Trata-se da implementação de várias estratégias sustentáveis e resilientes como o planejamento adequado do transporte urbano e da mobilidade, onde o uso de combustíveis fósseis é reduzido, juntamente com a melhoria da interconectividade urbana, do uso da terra, do aumento da densidade urbana e da pedestre das cidades. “Da mesma forma, um planejamento adequado de baixo carbono poderia equilibrar o fluxo de recursos entre o campo e a cidade, diminuindo as lacunas entre o desenvolvimento urbano e o rural, integrando em um único conceito misto ou híbrido de assentamento humano, ou seja, uma cidade ou cidade rural”, apontam os pesquisadores.

Mapa mostra região centro-sul do México, com alta concentração de megalópoles

Novo metabolismo urbano – Quais seriam os principais desafios para estabelecer novas estratégias para um planejamento urbano de baixo carbono em megalópoles mexicanas como a área metropolitana da cidade do México, ou cidades como Puebla e Toluca? Segundo os autores, essas são áreas caracterizadas por uma dispersão urbana descontrolada e por grandes áreas de terra ou espaços vazios, o que aumenta os custos de transporte e mobilidade urbana, criando problemas de interconectividade, segurança, falta de serviços públicos, entre outros. “No entanto, a existência de vazios nas cidades, paradoxalmente, pode ser uma grande oportunidade para estabelecer um novo modelo de planejamento urbano de baixo carbono, considerando a possibilidade de combinar usos da terra tipicamente urbanos com usos tipicamente rurais para a produção de alimentos e energia em pequenas e médias escalas”, sugerem. “Isso quebraria o paradigma tradicional de trazer recursos naturais, materiais e suprimentos de maneira unidirecional do campo para a cidade, o que poderia melhorar significativamente o metabolismo urbano dessas cidades”, complementam.

Trata-se, portanto, de planejar melhor o uso da terra, promovendo em equilíbrio entre o uso urbano e o rural, com agricultura na cidade e na zona rural. “No caso mexicano isso poderia amenizar as ameaças constantes de fornecimento de alimentos”, dizem. Entre as vantagens dessa estratégia estão: reduzir as emissões de gases do efeito estufa originado no transporte de alimentos e insumos agrícolas, proporcionar oportunidades e alternativas de emprego na localidade, diversificando as atividades por meio da inclusão de trabalhos rurais típicos, sem descurar os do ambiente urbano, fornecer alimento produzidos localmente, capturar carbono através do aumento considerável de áreas verdes que funcionam não apenas como áreas de lazer ou parques e jardins, mas também produzem alimentos e/ou energia em média e pequena escala e ainda mitigar as ilhas de calor nas áreas urbanas para melhorar os microclimas que afetam direta ou indiretamente o sistema ambiental e o conforto térmico da área ou cidade.