Sistema de gestão smart waste reduz impacto ambiental do lixo em cidade portuguesa

Entre as vantagens o sistema introduzido pela cidade de Viseu está saber a quantidade de resíduos recolhidos por região, o tipo de resíduo e a média mensal da quantidade de CO2 emitida pelos caminhões

A gestão de resíduos é um dos grandes desafios das cidades atualmente. A produção crescente de lixo é outra face do crescimento econômico e o acesso a bens de consumo. A correta destinação dos resíduos exige planejamento, logística e envolve um custo alto para os municípios. O smart waste, sistema de gestão e monitoramento dos resíduos e do processo de recolha, é uma das soluções para esse desafio. A cidade de Viseu, localizada na região central de Portugal e que tem cerca de 70 mil habitantes, adotou o sistema.

Um dos problemas no modelo tradicional da coleta de lixo é a falta de controle dos números absolutos da quantidade de resíduos recolhidos, face ao que é pesado e entregue para ser tratado e aterrado. Conforme explica o pesquisador, Rui Miguel Nogueira Trigo, da Escola Superior de Tecnologia e Gestão, a forma como são pesados os resíduos recolhidos ainda consiste na pesagem do caminhão com carga numa balança de veículos e subtraindo-lhe o valor da sua tara. “Isto faz com que haja uma imprecisão porque variáveis como o peso do combustível no tanque, do condutor, de ferramentas de trabalho transportadas no veículo, etc. são desprezadas. Esta diferença de peso tem impacto no valor monetário que se paga para o aterro, pois os resíduos são taxados ao quilograma”. Pensando em aprimorar esse sistema, a Câmara Municipal de Viseu contratou um sistema de gestão e monitorização dos resíduos e do processo de recolha. Esta monitorização é feita através de sensores de volumetria instalados nas tampas dos contentores do município e módulos GPS/GPRS nos caminhões.

Conforme explica Trigo, que estudou o modelo de gestão de resíduos adotado pela cidade portuguesa, os dispositivos instalados nas tampas dos contentores de resíduos contêm um sensor de volumetria que calcula o volume atualmente ocupado no contentor através da distância viajada por ondas emitidas pelo dispositivo. As ondas são emitidas e refletidas, e considerando que viajam à velocidade do som no ar (velocidade constante), é possível obter a distância a partir do tempo levado a chegar de volta ao sensor. A partir desta distância obtida e sabendo a altura da tampa do contentor até ao seu fundo, é efetuado o cálculo do volume do contentor ocupado de forma interna. Este dispositivo tem também uma tag que interage com o leitor RFID instalado no dispositivo do veículo de recolha. Esta interação dá-se através do método de comunicação dos dados lidos pelo sensor de volumetria. Esta tag é energizada aquando a aproximação do módulo do leitor RFID instalado no veículo de recolha.

Os dispositivos instalados nos veículos de recolha possuem três componentes principais: o leitor RFID, o sistema de GPS e o módulo GPRS. O primeiro é responsável por comunicar com o contentor, energizando a tag RFID presente no módulo do contentor para esta lhe enviar os dados obtidos pelo sensor de volumetria. O sistema de GPS tem como propósito obter a localização do veículo periodicamente, para carimbar as coordenadas no pacote IP a enviar para as web APIs. Já a componente de GPRS serve para comunicar por internet móvel os dados recolhidos codificados em JSON. Há duas categorias de pacotes enviados para a web API, que são distinguidos por um campo JSON chamado “issueType_name”. Este pode tomar os valores “Contentor” e “Viagem”, distinguindo assim os dados do contentor e os dados da viagem de recolha de resíduos. Estes dados incluem as coordenadas GPS, o código único da tag RFID do contentor, número de contentores recolhidos, matrícula do veículo, etc.

Crédito: Pixabay

Entre as vantagens o sistema introduzido pela cidade de Viseu está saber a quantidade de resíduos recolhidos por região, o tipo de resíduo e a média mensal da quantidade de CO2 emitida pelos caminhões. Há que se considerar ainda a redução de custos a partir da redução do volume de lixo informado aos aterros e do impacto ambiental do sistema como um todo. Além disso, a partir da quantificação correta e categorização dos resíduos por região, o smart waste deve abrir possiblidades de criar programas de educação ambiental para redução da produção de lixo específicos para diferentes públicos.

Por Patricia Mariuzzo