Pós-graduação em Política Científica e Tecnológica da Unicamp comemora 30 anos de existência

Por Paula Penedo

Prédio que abriga o DPCT/Unicamp. Crédito: Antonio Scarpinetti/Ascom Unicamp

Em 2018 o Programa de Pós-graduação em Política Científica e Tecnológica da Unicamp completa trinta anos de existência. Para comemorar, no próximo dia 05 de dezembro será realizado o evento “Memória, Presente e Futuro”, que discutirá temas como a trajetória e os desafios enfrentados pelo programa. O encontro ocorrerá na Funcamp, a partir das 8h30, e trará em sua programação palestras e mesas-redondas com convidados que fizeram parte da trajetória do curso, como Renato Dagnino, André Furtado e Hebe Vessuri, além dos ex-coordenadores do Programa e do reitor da Unicamp, Marcelo Knobel.

Criado em 1988, no Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do Instituto de Geociências (IG), o PPG-PCT tinha como foco o estudo dos processos de produção da ciência e da tecnologia e seu impacto na sociedade. Ao longo dos anos, o programa evoluiu para incluir em seu objeto de análise questões relativas à inovação, como seu processo de geração e difusão e as implicações para os países em desenvolvimento.

Para o coordenador do Programa, Marko Monteiro, refletir sobre essas questões tem importância cada vez maior na sociedade atual, em que ciência e tecnologia permeiam todos os aspectos do dia a dia e na qual as empresas com maior valor de mercado, como Google e Facebook, são baseadas em tecnologias e não em bens físicos.

Monteiro ainda lembra que essa área no Brasil está passando por uma forte crise, o que gera uma série de desafios como a recuperação da capacidade de produzir C&T e o incentivo ao investimento por parte do setor privado. “Os nossos desafios estão também relacionados aos desafios do sistema de ensino superior no Brasil, que está sendo muito questionado pela sociedade, como no caso das acusações de doutrinação. Então há muita incerteza também, e o nosso programa tem muito a contribuir e a refletir sobre esses desafios que são da ciência e da política ao mesmo tempo”.

Uma característica marcante da trajetória do programa foi a diversidade de abordagens. Elaborado desde o início com foco na interdisciplinaridade, o PPG-PCT utiliza métodos, perspectivas e análises oriundas de diversas disciplinas, como economia, sociologia, administração, engenharia, história e antropologia, articuladas em áreas como história da ciência e tecnologia, mudança tecnológica, meio ambiente e gestão de CT&I.

De acordo com Sergio Salles, professor titular do DPCT e diretor do Instituto de Geociências, o PPG-PCT é o único do Brasil com essas características e um dos poucos no mundo com tal amplitude e profundidade de temas, abordando assuntos relacionados a política, planejamento e gestão de CT&I de forma aberta e interdisciplinar, característica que teve forte inspiração do geólogo argentino Amilcar Herrera.

O professor Herrera foi uma figura central na trajetória do Departamento. Pensador do desenvolvimento latino-americano e um dos criadores do modelo de Bariloche, ele chegou à Unicamp em 1979, a convite do reitor Zeferino Vaz, para montar o Instituto de Geociências. Herrera organizou a estrutura acadêmica do IG em áreas temáticas, dentre as quais estava a “Tecnologia e Meio Ambiente”, com a proposta de pesquisar relações entre ciência, tecnologia e sociedade, o que mais tarde se tornaria o DPCT. “Desde que veio criar o Instituto, ele trouxe essa perspectiva da importância da diversidade para tratar o tema, e de que isso poderia ser feito academicamente ao mesmo tempo em que se fazia uma aproximação forte com a sociedade. E essa característica original se manteve e é uma das razões que eu considero do sucesso do programa”, afirma Salles.

Esse sucesso pode ser comprovado pela boa aceitação dos egressos no mercado de trabalho. De acordo com estudo realizado pela professora Leda Gitahy, ex-coordenadora do Programa, praticamente todos os ex-alunos trabalham com políticas de ciência, tecnologia e inovação, seja em instituições governamentais de apoio à pesquisa, como Finep, Fapesp e CNPq, seja em universidades ou em empresas. Os dados levantados na pesquisa ainda revelaram que 32% desses profissionais atuam como docentes, 9% são pesquisadores e 17% gestores e analistas de C&T. Além disso, muitos do formados no PPG-PCT, o que inclui pessoas vindas de toda a América Latina, criaram programas similares em seus países de origem ou em outras cidades do Brasil. As Associações de Estudos Sociais da Ciência (ESOCITE), por exemplo, foram criadas e têm uma predominância de ex-alunos do DPCT, que depois geraram frutos em locais como Uruguai, Argentina, Venezuela, Colômbia e Costa Rica. “O DPCT forma pessoas que, utilizando suas capacidades, conseguem abrir novas fronteiras. Forma um pessoal competitivo, que passa em primeiro lugar em concursos espalhados por todo o Brasil e que costuma ter êxito em qualquer área que atue”, aponta a professora.